Você já parou para pensar que, por trás de cada código brilhante, existe um ser humano com inseguranças, sonhos e uma história única para contar? No mundo acelerado da tecnologia, onde algoritmos e inteligência artificial dominam as conversas, é fácil esquecer que o verdadeiro motor de inovação continua sendo aquele recurso antiquado e imprevisível: o talento humano. A trajetória profissional de qualquer pessoa na área tech raramente segue uma linha reta, como bem demonstrou Edilaine Reis ao compartilhar sua migração do desenvolvimento de software para a gestão de projetos. Essa jornada, repleta de curvas inesperadas e descobertas surpreendentes, reflete uma verdade universal que muitos iniciantes demoram para aceitar: o caminho se faz ao caminhar.
Uma das dúvidas mais comuns entre aspirantes a profissionais tech é se estão “prontos o suficiente” para se candidatar a vagas. Esse fantasma da insuficiência técnica assombra tanto calouros quanto veteranos. Como Edilaine sabiamente aconselha, esperar dominar todos os requisitos de uma vaga é como esperar que o mar fique completamente calmo para começar a nadar – você pode esperar para sempre. Um estudo da Universidade de Harvard revelou que mulheres tendem a se candidatar apenas quando acreditam atender 100% dos requisitos, enquanto homens se arriscam com apenas 60%. Esse dado não apenas ilustra uma disparidade de gênero, mas também evidencia um comportamento autolimitante que pode atrasar significativamente o desenvolvimento profissional. Como diz aquele velho provérbio chinês que toda mãe brasileira adora repetir: “A jornada de mil léguas começa com um único passo” – mesmo que esse passo seja enviar um currículo para uma vaga que parece assustadora.
A segunda grande confusão que paira sobre mentes iniciantes é a crença de que habilidades técnicas são o único tesouro a ser acumulado. Sinto informar, queridos padawans da programação, mas saber criar o algoritmo mais eficiente do mundo serve de pouco se você não consegue explicar por que ele é relevante ou trabalhar em equipe para implementá-lo. Em 2019, um levantamento do Fórum Econômico Mundial indicou que entre as dez habilidades mais requisitadas para o futuro do trabalho, sete eram soft skills. Edilaine não poderia estar mais certa ao enfatizar a importância de investir em comunicação, priorização e postura profissional. Essas habilidades não são apenas “cereja do bolo” – são ingredientes essenciais na receita do sucesso profissional.
A terceira confusão recorrente envolve a visão romântica de que existe “a área perfeita” esperando para ser descoberta logo no primeiro contato. Na prática, muitos profissionais bem-sucedidos relatam ter encontrado sua paixão profissional após várias tentativas e erros. Edilaine sugere algo precioso: se possível, faça mais de um estágio e use essas experiências como laboratórios de autoconhecimento. Lembro-me de Paulo, um ex-aluno que começou estagiando em desenvolvimento back-end, passou para front-end, experimentou UX/UI e finalmente encontrou sua vocação em DevOps – área que nem constava em seu radar inicial. “Cada estágio foi como experimentar um sabor diferente do mesmo sorvete chamado tecnologia”, ele me contou em uma reunião de ex-alunos, “e eu precisei provar vários para descobrir meu favorito.”
O autoconhecimento emerge como uma bússola nesse oceano de possibilidades. Edilaine recomenda o livro “Descobra seus Pontos Fortes 2.0”, uma obra que já transformou a visão de carreira de milhares de profissionais ao redor do mundo. O método proposto pelos autores Marcus Buckingham e Donald O. Clifton sugere que, em vez de obsessivamente tentar corrigir fraquezas, deveríamos investir energia em potencializar nossas forças naturais. É como aquela história do peixe que foi julgado pela capacidade de subir em árvores – uma tragédia de talentos desperdiçados por métricas equivocadas.
Lembro-me vividamente de uma palestra onde uma executiva de recursos humanos de uma grande empresa de tecnologia compartilhou dados surpreendentes: 68% dos profissionais desligados nos primeiros seis meses não saíram por deficiências técnicas, mas por desalinhamento cultural e dificuldades de comunicação. É aqui que o conselho de Edilaine sobre o “canvas pessoal” faz todo sentido. Essa ferramenta de autoavaliação permite mapear visualmente forças, fraquezas, valores e objetivos, criando um mapa personalizado que orienta decisões de carreira. Uma de minhas alunas implementou essa prática e, em suas palavras: “Foi como finalmente encontrar o manual de instruções que deveria ter vindo comigo quando nasci.”
A questão da inteligência artificial merece atenção especial nessa conversa. Edilaine menciona que hoje todos devem ter conhecimentos básicos sobre IA – não necessariamente para criar modelos complexos, mas para entender como essa tecnologia pode potencializar seu trabalho. É o equivalente contemporâneo a saber usar um processador de texto nos anos 90. Em um artigo recente da Harvard Business Review, pesquisadores demonstraram que profissionais que combinam conhecimentos específicos de sua área com habilidades em IA têm produtividade 37% maior que seus pares que dominam apenas um desses campos. A matemática é simples: conhecimento técnico + IA + soft skills = profissional preparado para o futuro.
A mentoria aparece como outro elemento crucial nessa jornada. Buscar orientação de pessoas que já percorreram caminhos semelhantes é como pedir um mapa a alguém que já explorou o território que você pretende conhecer. Uma pesquisa da Associação Americana de Psicologia mostrou que profissionais mentorados têm cinco vezes mais chances de receber promoções e relatam níveis de satisfação profissional significativamente maiores. Meu próprio mentor costumava dizer: “Você pode aprender com seus erros, mas é muito mais inteligente e menos doloroso aprender com os erros dos outros.” Sábia economia de cicatrizes emocionais!
A experiência de estágio, quando bem aproveitada, funciona como um laboratório protegido onde erros são permitidos e aprendizados são acelerados. Edilaine sugere uma abordagem refrescante: use os estágios como períodos de experimentação, sem a pressão de acertar de primeira. Uma ex-aluna que hoje lidera uma equipe de desenvolvimento em uma startup de sucesso me contou: “Meu primeiro estágio foi um desastre técnico, mas um sucesso de aprendizado. Descobri tudo o que eu não queria fazer na vida.” Essa clareza negativa às vezes é tão valiosa quanto a positiva.
A construção de uma carreira sólida se assemelha à criação de um mosaico: cada experiência, curso, projeto e conexão representa uma pequena peça que, isoladamente, pode parecer insignificante, mas no conjunto forma uma imagem única e valiosa. O conselho de Edilaine sobre responsabilidade pessoal ecoa uma verdade atemporal: ninguém está mais interessado no seu sucesso do que você mesmo. Em tempos onde a terceirização de responsabilidades virou esporte nacional, assumir o controle da própria trajetória é um ato quase revolucionário.
Para quem busca aprofundar conhecimentos e desenvolver-se profissionalmente, plataformas como a DIO (Digital Innovation One) oferecem caminhos estruturados e comunidades de apoio. Profissionais como Victor Haruo, Iglá Generoso e a própria Edilaine Reis representam exemplos concretos de como o conhecimento compartilhado pode elevar o nível de toda uma indústria. A generosidade intelectual, tão característica do ecossistema tech desde seus primórdios com o movimento de software livre, continua sendo um diferencial para quem deseja não apenas crescer, mas também contribuir para um setor mais inclusivo e colaborativo.
A jornada de autoconhecimento e desenvolvimento profissional não tem linha de chegada – é um processo contínuo que se reinventa a cada nova tecnologia, metodologia ou desafio de mercado. Como bem ilustra o conceito japonês de “kaizen”, a melhoria contínua em pequenos passos diários frequentemente supera as grandes e esporádicas revoluções. Talvez o segredo esteja justamente aí: transformar o desenvolvimento profissional não em um destino a ser alcançado, mas em um caminho a ser apreciado, com suas curvas, obstáculos e paisagens surpreendentes. Afinal, como diria aquele amigo filósofo de boteco: “Na estrada da vida profissional, o Waze às vezes falha, mas o coração raramente erra a rota.”
REFERÊNCIAS:
BUCKINGHAM, M.; CLIFTON, D. O. Descobra seus pontos fortes 2.0. Sextante, 2018.
DWECK, C. S. Mindset: A nova psicologia do sucesso. Objetiva, 2017.
GOLEMAN, D. Inteligência emocional: A teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Objetiva, 2011.
FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL. The Future of Jobs Report 2020. Disponível em: www.weforum.org/reports/the-future-of-jobs-report-2020. Acesso em: 18 maio 2025.
HARVARD BUSINESS REVIEW. The Business Case for AI in the Workplace. v. 99, n. 4, p. 45-52, 2023.
OSTERWALDER, A.; PIGNEUR, Y. Business Model You: O modelo de negócios pessoal. Alta Books, 2020.